" Ide por todo o mundo, e pregai o evangelho a toda a criatura." Marcos 16:15.


Distrito de Girassol Município de Cocalzinho de Goiás - GO

Diocese de Anápolis

Adm. Pe. Paulo Ricardo







HISTÓRIA: N. S. DO LIVRAMENTO


Origem da Devoção


Quando seu avô faleceu, Dom Sebastião, era o único herdeiro legítimo do trono português. Como Dom Sebastião tinha apenas 3 anos de idade, o país submeteu a uma regência. O menino era educado sobre o comando do mordomo Aleixo de Menezes que o formou um ótimo militar, e do Padre Luís Gonçalves da Câmara, que fez dele um perfeito monge.
 Ainda jovem, em 1568, aos 14 anos se tornaria rei de Portugal. Devido a sua educação, era muito religioso, a ponto de se trancar em seu quarto para passar dias rezando e meditando. Não se aproximava de mulheres, pois acreditava que elas eram obras do diabo. O seu amor pela religião se tornou um fanatismo. O fanatismo religioso associado as seus dotes militares o motivou a organizar cruzadas [1].
Arrumou uma “Cruzada”, para ir à África defender a terra Santa do domínio turco, saindo de Portugal às escondidas. Deixou somente uma carta régia, pela qual deveria assumir a regência, o cardeal D. Henrrique. Pouco tempo depois Dom Sebastião volta a Portugal, por não ter podido lutar; porém mais tarde retorna à África, dessa vez para não mais voltar.
Com a morte, ou melhor, com o sumiço do rei português (uma vez que seu corpo não foi encontrado) na batalha de Alcácer-Quibir (Norte da África) em 1578, terminaria a Dinastia de Avis, uma vez que ele não deixou herdeiros. Assumiu a regência o cardeal D. Henrrique que já estava com a idade bem avançada e que, dois anos depois, morre também.
Vários eram pretendentes à sucessão da coroa portuguesa, dentre os quais podem ser citados os nomes de D. Antônio, Prior do Crato; Dona Catarina, duquesa de Bragança e neta de D. Manoel; e Felipe II, rei da Espanha e neto de D. Manoel, além de muitos outros candidatos.
O povo lusitano se dividiu entre os que queriam que D. Antônio fosse rei e os que não acreditavam na morte de D. Sebastião e aguardavam sua volta, para libertar Portugal do caos. Os militantes da crença de que D. Sebastião não morreu eram os membros do Sebastianismo, que ainda teve repercussão no Brasil na Revolução de Canudos, cerca de 300 anos depois.
            D. Antônio chegou a ser aclamado rei de Portugal, mas o entestado rei da Espanha, Felipe II, não gostou da idéia e reagiu violentamente, porque se considerava o herdeiro legítimo. Conquistou Portugal pela força militar e pelo dinheiro com que comprou a elite lusitana. Um reinado ditatorial para conseguir a união de Portugal e Espanha e, conseqüentemente, suas colônias.
Essa unificação ficou conhecida como “União Ibérica”. O Duque de Alba, enviado pelo rei da Espanha a Portugal, com a finalidade de manter a ordem no país dominado, mandou prender, imediatamente, todos os portugueses que se negassem render homenagens aos invasores, e especialmente a Felipe II.
            Entre os presos estava Rodrigo Homem de Azevedo, um dos mais ardentes defensores da pátria lusitana. Sua esposa, devotíssima de Nossa Senhora, vendo o risco que corria a vida de seu marido, recorreu à rainha do céu, neste momento de angústia. A seguir, durante nove noites, a dedicada esposa sonhou com a virgem Maria que lhe aparecia dizendo-lhe: - “Não te agastes! Eu, que tudo posso, o livrarei. Se puderes, em algum tempo, edificar-me-ás uma casa”.
Terminada a novena, entre todos os detidos, somente Rodrigo Homem recebeu a ordem de voltar para sua casa. Seus amigos foram cumprimentá-lo e, dele, ouviram a narrativa da grande graça que lhe concedera a Mãe de Deus. Em agradecimento, o nobre, mandou fazer uma imagem de Nossa Senhora do tamanho e forma, da visão que tivera em sonhos, sua esposa: vestida de branco, com os belos cabelos soltos e o menino Jesus no colo.
Devido às palavras da virgem: - “Eu o livrarei”, foi a ela conferido o título de Nossa Senhora do Livramento.
Tendo falecido a primeira mulher de Rodrigo Homem e contraindo ele segunda núpcias, contou à esposa o que lhe um dia acontecera. Ela animou-o a construir a Ermida de Nossa Senhora do Livramento.
O nobre adquiriu um terreno apropriado e, ali, construiu um templo para a Virgem, que foi inaugurado com solene procissão acompanhada de crianças vestidas de anjos e santos, ricamente adornadas. Notáveis danças se realizaram, animadas pelos mais diversos tipos de instrumentos musicais. Esta nova devoção de Maria Santíssima foi trazida para o Brasil, e se fixou em poucos locais: Piumhi, Minas Gerais, Guiba, Rio Grande do Sul e Livramento na Bahia. Hoje é Padroeira de nossa terra, guiando-nos na caminhada de fé.


[1] Expedições que objetivavam defendem a Terra Santa (terra onde Jesus nasceu e viveu) do domínio árabe ou turco.






 
Iconografia da Imagem


          Iconografia é a ciência que se dedica ao estudo dos vários tipos de desenhos, esculturas, imagens e outras formas concretas que se usam para fazer história. Faremos uma rápida análise iconográfica de como seria Nossa Senhora do Livramento.
            Sempre está de pé, vestida com uma túnica e um manto que lhe cinge o corpo. Segura com o braço esquerdo a imagem do filho de Deus, e em sua mão direita um cetro. Ambos usam coroa real e estão envoltos de anjos. A imagem da esquerda é a considerada oficial pela comunidade eclesial piumhiense, por seu rosto ser mais alongado e aparentar ser “mais brasileira”  Por tais motivos está no altar principal da Igreja matriz de Piumhi. A imagem da direita está no Escritório Paroquial. Segundo o povo católico, ela possui o rosto mais arredondado aparentando, assim, ser “mais européia”. Mas a origem da devoção não se deu em Portugal, e este não se localiza na Europa?
A diferença está no material em que elas foram feitas: a primeira cujas feições são mais rústicas se justifica por ser de madeira, isto é, de trabalho difícil; e a outra é de gesso, que já é um material que se manipula mais facilmente do que a madeira.
            Além do rosto diferente há outras visíveis diferenças: o braço direito de uma está erguido, enquanto que o da outra, está para baixo; uma tem um manto a mais que a outra; em uma o menino está com uma bola na mão enquanto que na outra não há, uma o Menino Jesus está vestido, na outra não.
            Mas não existem somente essas duas formas de imagens. Há algumas com cores das vestes diferentes, com o braço junto ao corpo. Porém, isso não importa, pois a fé que o povo denota em Maria, com este título de Nossa Senhora do Livramento, é maior que qualquer discussão a respeito de qual é e qual não é a verdadeira imagem.


Hino A Nossa Senhora Do Livramento

Algumas pessoas que integravam a comunidade eclesial piumhiense, diante da inexistência de um hino de louvor a nossa amada padroeira, idealizaram a composição de um que prestasse o culto à Senhora do Livramento.
            A comissão era formada por eminentes pessoas de bem, todas comprometidas diretamente com a Igreja, era composta por 5 pessoas: Ana Maria Alves, Ana Maria Campos (Aninha Campos), Geovane de Oliveira, Joana d’Arc de Oliveira e Valtelina das Dores Cirilo Essas pessoas fizeram a composição da letra do Hino. A música foi entoada pelas mesmas com exceção da primeira. Abaixo consta a letra deste hino que sempre é cantada em tempos de festa da padroeira.

Hino a Nossa Senhora do Livramento


Estava para morrer
O Homem seu companheiro
Preso injustamente
Por opressores do rei
Mas suplicando à Mãe do céu
Esta em sonho lhe apareceu
Toda de branco, com Jesus ao colo
E a mulher, a graça recebeu.

“Não te agastes
Eu que tudo posso o livrarei!”
Como salvou o inocente em Portugal
Livra-nos hoje de todo o mal
Da ambição e incompreensão
Da mentira e da opressão

Chegando Nossa Senhora
Em Minas Gerais
Em Piumhi
Ela quer ficar aqui
Colocou um fim a tamanha intriga
De poderosos, ricos fazendeiros
As terras em conflitos são oferecidas
À Nossa Senhora do Livramento

“Não te agastes
Eu que tudo posso o livrarei”
Como apaziguou aqueles corações
Conceda a paz em nossa região
Livrai-nos da droga e do desemprego
Do desafeto e discriminação.

           A letra do hino é muito rica, tanto em resgate histórico quanto em melodia. Historicamente faz menção às origens da devoção de nossa Senhora do Livramento, tanto em Portugal quanto em nossa terra, bem como arrebate nossos corações ao presente na forma de pedir a libertação de todos os males.
            A primeira estrofe faz menção do fato de Felipe II, o rei, mandar por seus opressores prender, quem fosse contra os ideais da “União Ibérica”. Dentre os presos, “Homem”, que amava a terra portuguesa, fora liberto ileso pela prece da companheira (sua esposa). A Nossa Senhora aparece e com palavras a consola. Em resumo, narra a origem da devoção de Nossa Senhora do Livramento.
            Na segunda estrofe, traz para os dias de hoje, com olhos para os problemas sociais atuais, as palavras de Nossa Senhora do Livramento e, depois, o pedido para que nos livre dos males como a incompreensão, mentira e opressão.
            A terceira estrofe retrata a proliferação da devoção à Nossa Senhora do Livramento, que veio de Portugal para Minas Gerais, especificamente em Piumhi, fazendo novamente um resgate da história local, onde dois fazendeiros brigavam por questões de terras. Ressaltando que a padroeira trouxe a paz e eles retribuem a graça doando as terras em conflitos à Mãe do céu.
            Na quarta e última estrofe, dá uma continuação à terceira. Novamente nos arrebate aos dias de hoje pedindo que nos livre de outros males do nosso cotidiano.
            Ao ouvi a letra em sincronia com a melodia, ao mesmo tempo em que inspira respeito, dá arrepios de emoção e nos traz uma paz de espírito muito grande ao relembrar nosso passado de história e de glória, em que Deus agiu por intercessão da Mãe do céu.
            Por ser leigo no assunto, prefiro não tecer comentários sobre a música. Então solicitei ajuda ao músico Zenon de Oliveira para que o fizesse. Zenon assim comentou a sincronia da música com letra: “Sendo a história de nossa padroeira originária de Portugal, o ritmo de fado caiu muito bem na música, uma vez que o fado é um ritmo predominante naquele país. No segundo verso de cada estrofe, nota-se que há um certo excesso de letra, ou seja, muita letra para pouca música. Também no segundo verso de cada refrão, nota-se tal colocação. No geral, no entanto, a música e a letra são coerentes com o tema proposto, uma vez que a proposta seria contar a história e a origem de nossa Santa padroeira. Importante também notar que a autoria colocou palavras bem caracterizadas e faladas em Portugal e na melodia bastante expressiva conforme já disse, o ritmo de fado. Tratando-se, portanto de autores de nossa cidade, com uma grande caminhada de Igreja procurou-se colocar mais a vivência do que a técnica ou a métrica. Bem resumida, a história foi contada”.
Diante deste comentário notamos que os autores conciliaram a vivência de Igreja e a história de nossa padroeira, não se importando muito com técnicas musicais, colocando a sua história e fazendo preces para que a nossa padroeira possa nos “livrar” do mal. No entanto ao ouvi-la por quem é leigo, esses “defeitos”, se é que podem ser chamados assim, passam despercebidos.



 A idéia do “rosto abrasileirado” é da Irmã canadense Marcelle Roussi.
 A crença popular era de que tanto na imagem quanto no céu, o menino Jesus segurava essa bola, que representava o mundo, se ele a deixasse cair o mundo findava em uma explosão (Tradição popular). 
 Essas informações foram fornecidas pela musicista Joana D’arc de Oliveira, lembrando que pode ter havido participação de outras pessoas na composição da música.